Ao Anjo do Engenho do Pau d`Arco ( I )
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e quando o último dos últimos julgar, assim,
que toda esta vida é finda, é morta.
eis-me aqui, no fim de todo fim
fechando a porta.
(Alexandre Marcante - 1987)
Ao Anjo do Engenho do Pau d`Arco ( II )
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ah este caminho não é meu
e a cova em que eu deitara e fiz de leito
não é a minha, e o paletó que uso é o seu
até o coração neste meu peito, veio bater meio sem jeito
questionando a meu respeito, e em que momento o meu cadáver se perdeu
(Alexandre Marcante - 1987)
Sabiá Primavera ( no tempo do amor)
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só tu sabes sabiá
quanta dor no peito há
desde quando ela partiu
tu passaras a cantar
só tu sabes sabiá
quanta dor no peito há
uma canção que se ouviu
sobre nunca mais voltar
só tu sabes sabiá
quanta dor no peito há
quanta dor já se sentiu
se outro amor vai curar
só tu sabes sabiá
quanta dor no peito há
se essa dor diminuiu
e quanto tempo esperar
MARCANTE, Alexandre – 06 de junho de 1987.
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Nem "seje" nem "menas"
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Povo que come nos pastos
De "Nem seje e nem menas"
Onde só há poetastros
Que rimam às duras penas
Mas a vida é mesmo assim
Vezes mole, vezes dura
E vão comendo capim
E usando ferradura
Pois venho então redimi-los
Servindo-lhes o próprio feno
Aqui produzido aos quilos
para que "seje", seja "seja" e "menas", seja "menos"
(MARCANTE, Alexandre)
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Eu moro longe
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Eu moro longe
Tão longe, que o vento se perdeu
Antes de me achar
Eu moro longe
Tão longe, que o amor morreu
Antes de me matar
Eu moro longe
Tão longe, que pensei ser sonho meu
Antes de ir pra lá
MARCANTE, Alexandre.
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Paulinho da Baiana
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Chapéu de palha
Anel gurufinho
Navalha
Dente de ouro
Paletó de linho
Pisante de couro
Gafieira, carteado
Capoeira, mulata vadia
Exu Caveira na guia !
(MARCANTE, Alexandre)
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PÁRIS
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Doa.
Confia seu próprio tempo
Única riqueza não impura
Àqueles que nunca pedem ouro ou reinos
Luta.
Outros níveis
Campos improváveis e sem perspectivas
Terras miseráveis
Fato.
Não há sonhos como os nossos
Viver não faz todo ou o mesmo sentido
Tudo é mais, tudo é menos e sempre
Pensa.
Glórias vazias e honras invisíveis
Livre – arbítrio – infecto
Mentes incognoscíveis
Muda.
É tudo ou nada
Solos áridos, solidão, solidários
Caminhos que não existem, virão
Vida.
Perguntas incompletas
Respostas evasivas, à fome, à sede
Lembra? O tempo? Elas serão vencidas
Ajuda.
Põe as mãos nas feridas
Flores expostas, rosas vermelhas e mortalhas
Carne viva – só é preciso viver –
Beija.
O amor é outra coisa, há cura
Onde a dor é sempre a mesma queixa
- A mentira é sempre a pior doença! –
(MARCANTE, Alexandre)
AMS® publicações & Casa das Letras, 1999 - 871216/918039 - 559 todos os direitos reservados.
É CEDO
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Acorda cedo
Com o medo
Com o galo, as galinhas
O cheiro de café
Na casa da vizinha
O sexo
Acorda cedo
Em silêncio
Em segredo
Em estado de graça
Na desgraça
Sozinho
Perplexo
Suando, suando, suando
O suor
O veneno
O vinho, a cerveja, a cachaça
O medo
Acorda cedo
A conta
A conta
A conta
O juro
O juro
O juro
O mormaço, o cansaço, a fornália, o abrigo
Acorda cedo
No escuro
O obscuro
O obsceno
O castigo
O futuro
Ó morto!
Ó macaco!
Ó morcego!
À batalha, é cedo.
(MARCANTE, Alexandre)
AMS® publicações & Casa das Letras. 2004 - 810592/000339 - 122 todos os direitos reservados do autor.
CARNIÇA
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Pássaro
Pássaro
Ainda não sei voar
À beira do abismo absoluto
Não posso cair
Não quero me atirar
Eu luto
Eu luto
Começo a cantoria, não sei cantar
Começa a choradeira, não consigo chorar
Eu rio
Eu rio
De tristeza, surpresa, idiotice, ouvidos moucos
- Senhora, a fila andou mais um pouco?!
Pássaro carnívoro
Assobio
Assobio
Disfarce
Disfarço-me de vivo
Enfim, não há fim que não perdure
Enfim, não há ainda um fim vigente
É frio
É frio
É quente
É quente
O urubu
O urubu
O fedor
O fedor
O fim
O fim
À beira do abismo há um bando de gente
MARCANTE, Alexandre – 02 de julho de 1986.
AMS® Editores textos/publicações & Casa das Letras. 677001/910182 - 340.: Todos os direitos reservados do autor.
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O SENTIDO DE MINAS
Eu vou pra Minas.
Que lá, tudo faz sentido
O “trem” faz sentido
Faz sentido
A luz, o ouro, o céu
O amor, a flor, o mel
Eu vou pra Minas.
Que lá, tudo faz sentido
O lobisomem faz sentido
Faz sentido
O leite, o café, o queijo
A fé, o uai, o beijo
Eu vou pra Minas.
Que lá, tudo faz sentido
A cor, faz sentido
Faz sentido
A poesia, a sapiência, o segredo
A dor, a alegria, o medo
Eu vou pra Minas.
José, Carlos Drummond, Bené
Até Bandeira voltou de Passárgada
Todos foram pra Minas
Até o mar foi pra Minas
Minas, faz sentido
Eu vou pra Minas.
(MARCANTE, Alexandre).AMS® publicações & Casa das Letras. 1999 - 662345/090967 - 733 todos os direitos reservados.
GUERRA E PAZ (os dias & as noites)
As casas tinham a laje fria
E nelas, envoltas em floras amarelas
Não havia portas, e nem janelas havia
Nos galhos, blindados de cristais
Namoravam, a sós, um belo par de cotovias
E dele, o som que inda se ouvia no entardecer lilás
A cor do dia agonizava o éter do infinito inda sem luzes
E ao passo que contra o infalível breu perdia inglória luta
O negro véu vencia impávido, o conflito, anjos, almas e cruzes
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MARCANTE, Alexandre – 02 de junho de 1987.
©AMS publicações & Casa das Letras. 312388/067584 - 772.: Todos os direitos reservados do autor.
A BOMBA INCOGNOSCÍVEL
A bomba e sua origem desconhecida
Ignota!
A bomba e sua mente poluída
Idiota!
A bomba e sua alma corrompida
Clonada!
A bomba e sua vida sem vida
Viciada!
A bomba e sua raiz quadrada
Matemática!
A bomba e sua raça automatizada
Problemática!
A bomba e sua crença robotizada
Fanática!
A bomba e sua marca registrada
Importada!
A bomba e sua nova máquina
Microcomputadorizada!
A bomba e sua antena diabólica
Parabólica!
A bomba e sua tese política
Analítica!
A bomba e sua nova ordem mundial
Neo-imperial!
A bomba e sua fina gravata
Autodidata!
A bomba e sua palavra incompleta
Analfabeta!
A bomba e sua velha carcaça
Aposentada!
A bomba e sua nova bomba
Safenada!
A bomba e sua nova pílula
Falsificada!
A bomba e sua vasta filharada
Esfomeada!
A bomba e sua carteira pelada
Desempregada!
A bomba e sua marmita vendida
Privatizada!
A bomba e sua existência errada
Deturpada!
A bomba foi manipulada
A bomba foi engravidada
A bomba foi globalizada
A bomba foi estuprada
A bomba foi amputada
A bomba foi desabitada
A bomba foi descamisada
A bomba foi deseducada
A bomba foi desfigurada
A bomba avançou o sinal
A bomba foi multada
A bomba está mal
A bomba está pobre
Mas a bomba quer ser emergente
A bomba quer ser nobre
Mas a bomba está indigente
A bomba está incorrigível
A bomba está ininteligível
A bomba está doida
A bomba vai às urnas
- Atenção!
- Contagem regressiva:
- Dez!
- Nove!
- Oito!
- Sete!
- Seis!
- Cinco!
- Quatro!
- Três!
- Dois!
- Um!
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(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 1996 - 966291/271991 - 115 todos os direitos reservados.
Prêmio Criarte de Literatura, ETEVM, 1999. (POESIA DE CUNHO SOCIAL).
POEMA DA INANIÇÃO
Mundo de estômago fundo
Caixão de trigo vazio
Estômago fundo de fome
Mundo cheio de homem
Homem vazio de trigo
Estômago vazio e fundo
Caixão estômago mundo
Mundo cheio de fome
Caixão cheio de homem
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(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações & Casa das Letras. 1996 - 971418/229485 - 111 todos os direitos reservados.
CAFUNDÓ
Sem eira
Nem beira
Redunda
Dispara
Sem pino
Sem mola
Rola
Sem sorte
Rotunda
Sem tino
Resvala
Esfola
Grita
Afoga
Afunda
Inunda
Pára
Atola
Rebola
Retumba
No fundo
A bola
A Terra
O mundo
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.(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 1987 - 030244/771190 - 104 todos os direitos reservados.
ESPELHO MÁGICO
uma pára e olha
ri da outra e depois chora
de toda desgraça ou desventura
que na aventura dessa hora virem
chora e ri por longa hora
e quando já não é meio termo a loucura
sangra, por dentro e por fora
e das lágrimas e gritos que seu corpo expele
há uma estranha mistura agora
enruga a testa e soluça
ofegante, respira como nunca
“chorirri” com refinada amargura
mas, de súbito e com falso espanto
sempre se pergunta
sem medo de ouvir a única e cabível resposta:
-Quem é a mulher que o espelho mostra agora?
seca o rosto
cristalizada ternura
retoca a maquilagem
sem se despedir, vai embora
a outra, submissa e horrorosa
desaparece nas profundezas obscuras do espelho
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.(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 1987 - 821904/921173 - 850 todos os direitos reservados.
QUINTESSÊNCIA
fito airoso arrebol
deixo-me à
correnteza
sigo os passos do sol
tenho-me natureza
em busca da
quintessência
numa jornada infinita
para suprir tua ausência
minha
porção mais bonita
histórias e sonhos vividos
que um dia você me contou
- ai que estivessem perdidos!
meu coração os guardou
eu que inda
sou seu amigo
sem medo, pressa ou dor
nessa viajem, sigo
buscando
ser seu amor
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(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 1988 - 295831/106296 - 821 todos os direitos reservados.
A PEDRA
Ai, Doutor! Pare essa pedra.
Esse cálculo renal
Que em mim, anda
Desgovernadamente procurando um canal.
Obcecadamente,
Vai em sua douda sina
E uretralmente falando, pára.
Impedindo a ardente urina.
Ai, Doutor! Dê-me a morfina-flôr
Dentro de mim agora queima um sol
Ó! Famigerada dor,
De conta-gotas, encho o urinol.
Ó! Laser supremo!
Raio certeiro!
Atinja com seu poder extremo
Calculadamente, o sol inteiro.
-Volte logo. Dizem “eles”.
Digo - Ó! Doutor! Ainda estou febril.
E a dor não é neles. - Puta que o pariu!
Dê-me logo o Bom Bril
Que esfregarei na cara deles.
Num tratamento fino,
Puseram em mim um cateter
Buscopan, Norfloxacino...
Mas em lugar de urina parece que sai éter!
Ai que dor! Putz!
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(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 2004 - 274984/784003 - 782 todos os direitos reservados
(A Epopéia da Pedra – p.127 Editora Marcante Quase Cultural . 2004)
MPB
Music from Brazil
Acaso uma puta
Foi quem a pariu
Pai, desconhecido
Talvez de todo o povo
Terá ela nascido
Logo, se perdeu
No mundo ela caiu
E deu no que deu
Cansou de ser ouvida
Transou com todo mundo
Será que está perdida?
Escuta! Escuta! Escuta!
Ela está na calçada da fama
E também na de Copacabana
Prostituta
Música do Brasil
Música de luta
Puta, à toa e rameira
Que todo mundo já ouviu
Música Popular Brasileira!
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MARCANTE, Alexandre.AMS® publicações 2006 - 821144/008538 - 531 todos os direitos reservados.
CORAÇÃO SOLIDÃO
O meu coração não é de pedra
Mas quando partes, sem razão
O meu coração se quebra
Junto os pedaços, com fé
Mas como colar um coração
Que nem de pedra mesmo é?
Na solidão eu fico a pensar
Com os cacos em minhas mãos
No dia em que fores voltar
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(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 2003 - 614029/550911 - 772 todos os direitos reservados.
DIA DAS MÃES
Triste, eu volto pra casa
Pois sei que ela nunca está lá
Mas tenho em mim a esperança
De um dia podê-la abraçar
Onde estará minha mãe?
Eu fico a me perguntar
Só sei que não vem me cobrir
E muito menos beijar
Os carros passam lá em cima
Desse meu lar-viaduto
Meu corpo todo estremece
Mas contra o medo reluto
Eu fico a fitar as estrelas
Que luzem lá entre o vão
Em minha cama macia
Feita de papelão
-Ó Amiguinhas do céu!-
Encontrem-na para mim
Permitam que só neste dia
Minha tristeza tenha fim
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(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 1999 - 472907/331003 - 102 todos os direitos reservados.
POEMA DE ASSALTO
Como dum coldre sacado
Revolvo revólver em punho
Um poema engatilhado
Em sua vida eu rascunho
Tomando-a assim de assalto
Em pleno onze de junho
-Mãos para o alto!
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(MARCANTE, Alexandre)
AMS® publicações. 991220/8362895 - 024 todos os direitos reservados.
A dor do poeta é o Amor
E enquanto escreve ele inventa
Que nunca sentiu ser Amor
A dor que nem mesmo agüenta
Tão fingida é a dor que bem sente
Que quando deveras for
Doer-lhe-á tão profundamente
Que quase morrerá de Amor
Pobre poeta escritor
O Amor em seu peito clama
Não pode enganar a dor
Nem pode fingir que não ama
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(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 2006 - 274984/784003 - 782 todos os direitos reservados.
RECICLO
No fim de cada dia
Eu pego meus momentos
(separo, divido, segmento)
O que for bom vira poesia
O resto se perde no pensamento
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(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 2001 - 672213/540199 - 814 todos os direitos reservados.
AMOR DE MARIA
Hoje sou toda dor
Uma dor que é só minha
Uma dor sem pudor
Uma dor que eu não tinha
Hoje sou toda dor
Uma dor que me toma
Que me deixa o amor
Mas me põe nesse coma
Hoje sou toda dor
Uma dor que me cala
E transforma em pavor
Essa voz que vos fala
Hoje sou toda dor
Uma dor tão ingrata
Que nem mesmo ao amor
Essa dor já não mata
Hoje sou toda dor
Uma dor de agonia
Mas cheia de amor
Um amor de Maria
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(MARCANTE, Alexandre).
AMS® publicações 1999 - 739388/080552 - 644 todos os direitos reservados.