EMBOLADA DO ARREPIO - REPENTE E DESAFIO
MARCANTE, Alexandre. AMS Publicações & Casa das Letras, 2007.
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Personagem desafiante: O Rei Zé Tranqüilino
Personagens açulados: Bené, Maria Ninguém, Tira Tripa e Firmina
_______________________________________________________________________E começa o Rei Zé Tranqüilino...
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Vejam só como é que é
Essa rima bem rimada
É rima feita com fé
Não é conversa fiada
Um conselho vou te dar
Não aceite o desafio
E nem queira me enfrentar
Pois sou rimador de brio
Me chamo Zé Tranqüilino
E não vejo aqui um só
Que cometa o desatino
E se arrisque a virar pó
Não dou trela pra mancebo
Que só rima de veneta
Minha rima bota medo
Até no pai do capeta
Continua: Zé Tranqüilino...
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Não quero ser descortês
Mas não confunda c... com bunda
Aqui terás sua vez
Pois a rima nunca afunda
Sou Tranqüilino na rima!
Sou guerreiro, sou do norte
Sua rima não combina
Você tem é muita sorte
Um bocado de farinha
É o que posso oferecer
Não tente roubar a minha
Se não quiseres morrer
Bené, conte até três
E venha comigo embolar
Mas não engula de uma vez
Ou então engasgará
E tome embolada...
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No inferno ou no céu
Eu rimo de qualquer jeito
E só tiro meu chapéu
Se a rima for de respeito
Embolar é minha sina
Não faço rima na sorte
O medo não me domina
Pois eu sou a própria morte
Se Bené quer me enfrentar
Viverá comendo feno
Ou então se findará
Numa taça de veneno
É melhor não arriscar
Pra não se chamar defunto
Pois aquele que tentou
Está na cidade do “pé junto”
E segue Zé Tranqüilino...
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O meu verso é perfeito
Mas não tente imitar
Sua rima ainda tem jeito
Mas é preciso estudar
Nunca li tanta besteira
Mas Bené ainda insiste
Rima cobra com topeira
E rapadura com alpiste
Se voltar aqui de novo
Rimando gema com clara
Vai acabar chocando ovo
De tatu e capivara
Comigo não há quem possa
Continuo bem tranqüilo
Sou o dono dessa roça
Aqui planto meu destino
Desafiando a Bené...
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Você é inteligente
Mas ainda não sabe rimar
Vai tentando, e de repente
Um dia vai acertar
Se você fugiu da escola
Nunca rimará correto
Pois dentro dessa caixola
Só existe um Tico e um Teco
Tico e Teco estão brigando
Já estou vendo a fumacinha
Enquanto isso vai tentando
Igualar sua rima a minha
Por hora vou te deixar
Mas continue tentando
E não pare de estudar
Pois a fila está andando
E segue Zé Tranqüilino...
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Meu verso é pra lá de nobre
Sou o melhor do universo
Eu não faço rima pobre
E só a Deus ajuda eu peço
Pra que nessa embolada
Surja alguém capacitado
Vou fazendo minha estrada
Mas estou desanimado
Mesmo ainda que eu aceite
A solidão é uma fera
Bené é café com leite
Eu quero é rimar à vera
Dormirei na madrugada
Mas amanhã voltarei
Continuar a embolada
Pois aqui ainda sou rei
Ó melancolia!
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Ainda não fui embora
E essa embolada é de tédio
Pois estou dormindo agora
E não há melhor remédio
Se houver um corajoso
Que resolva me enfrentar
Melhor que seja brioso
Pra vir aqui me acordar
Por enquanto vou dormindo
Sonhando com amor e paz
Eu sou o Rei Tranqüilino
E Deus sabe o que faz
Mas se me acordar é guerra
Volto aqui a embolar
Sou o dono desta terra
Meu império de rimar
Se achegue Maria Ninguém...
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Seja bem vinda Maria
Você até que rima bem
Não tenha medo e sorria
Pois aqui serás “alguém”
Bené já voltou à roça
Pouco tempo esteve ausente
Comeu doce de compota
E ficou com dor de dente
Mas não fique aperreada
Nem ponha os bofes pra fora
Continue na rimada
Pois só começou agora
E não se esqueça menina
Eu ainda sou o rei
Pois nesse pastos de rima
Eu mesmo concebo a lei
Um dia depois do outro...
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Hoje acordei risonho
Pensando no que fazer
Resolvi contar o sonho
Que eu tive com você
Sonhei que você rimava
Como rimava seu rei
Mas o rei ainda reinava
E foi aí que eu acordei
Ê sonho doido da peste!
Nele bem você rimou
Mas a rima que fizeste
Era sonho e se acabou
Nesta terra de rimada
Volto ainda mais tristonho
Pois o sonho deu em nada
E a chorar então me ponho
Firmina!!! O prazer é seu, mas o facão é meu!
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Cheguei aqui com vontade
De acabar com essa guerra
Esse tal de Tranqüilino
É cabrito que não berra
Meu nome é só Firmina
E o meu verso combina
Me chamaram de assassina
Pois eu sou mulher felina
Venho aqui nessa terra
Mas eu sou do Catulé
Minha terra de origem
Lá homem não enfrenta mulher
Desafio qualquer um
Nessa embolada de reis
Pois eu me chamo Firmina
E acabarei com um por vez
"Dinastia Tranqüilina"
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Sei que agora somos quatro
Nesse reino de embolada
Mas isso é só mais um fato
Para mim não muda nada
Eu continuo reinando
“Dinastia Tranqüilina”
E mais uma vem chegando
Bem vinda seja Firmina
Firmina fique a vontade
Seu verso também é bom
Sua rima tem verdade
Mas é preciso ter dom
Tens a versatilidade
Mas o dom é Deus quem dá
É coisa da divindade
Não adianta inventar
E assim responde firmina
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Sei que já caiu a tarde
E eu aqui volto a embolar
E sem fazer muito alarde
Meu facão vou afiar
Tranqüilino tá com medo
Parou de tagarelar
E foi até dormir mais cedo
Pra não ter que me enfrentar
Ele disse que era o rei
Só se for da covardia
Meu facão é minha lei
Seja noite ou seja dia
Meu facão já está afiado
E prontinho pra furar
A barriga do coitado
Que resolver me enfrentar
Ocê tá é pirada muié!!!
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Meu pranto não é de dor
Tampouco será de agonia
Inda se fosse de amor
A sorrir arriscaria
Choro de melancolia
Por não ter quem me enfrente
Ainda não tive a alegria
De encontrar algum valente
Na embolada ainda sou rei
E assim sigo reinando
Sei que um dia encontrarei
Algum valente rimando
Firmina preste atenção
Naquilo que você rima
E lembre-se que limão
Nunca foi laranja lima
Chegou o Tira Tripa!!!
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Zé tranqüilino, cuidado
Que já chegou Tira Tripa
Pra acabar com seu reinado
Pois aqui você não fica.
Bené é muito valente
Não sei se é homem ou mulher
Sabe tudo do repente
Mas não vai ficar de pé.
Firmina acha que é esperta
Somente porque é mulher
Mas uma coisa é certa
Vai voltar pro Catulé.
Maria Niguém tá com medo
Acha que entrou numa fria
E também vai morrer cedo
Pois tem pouca pontaria.
Seja bem vindo!!! O seu caixão tá separado
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Diz o ditado jocoso
Quem nunca comeu mel se lambuza
O seu futuro é duvidoso
Já disse o Mestre Cazuza
É mais um que participa
E que só fala besteira
Diz até que tira tripa
Mas rima feito topeira
Continuo nessa lida
Do Chuí à Caicó
E vou tocando essa vida
Mas continuo bem só
Nova lei vou publicar
E exigir nesse mundo
Aquele que não rimar
Vai levar chumbo!